Aviso #1: Estou em um netbook sem acentos no teclado, poucas palavras serão acentuadas pela correcao ortográfica, mas perdoem os eventuais erros e variacoes em interneteis para facilitar a leitura, como o "eh" no titulo.
Aviso #2: esse post será longo....
Os que me conhecem sabem o quanto eu gosto do meu quarto. Eu pessoalmente chamo de Covil Secreto do Mal, mas "quarto" serve. Obviamente, para a maioria das pessoas, o próprio quarto eh o melhor lugar do mundo. Eh onde estão sua caixa secretas de memorias tolas e de segredos bobos, guardados na gaveta do meio. Eh onde se anda pelado. Aonde estão as revistas de mulher pelada, debaixo da cama. Eh onde se chora sozinho. Eh onde se guarda o porquinho de moedas, atrás das meias.
Mas eu tenho uma conexão com minha caverna a qual eu considero maior do que a da maioria dos outros seres viventes nesse universo. Meu esconderijo eh para mim como uma concha para uma ostra. Quando o mundo explode eh para la que eu vou e não gosto de ser incomodado. Eu nao gosto quando entram na minha concha, pricipalmente quando eu nao estou la dentro para mandar quem quer que seja sair. Nao gosto que o baguncem, ele esta muito bem arrumado. Nesse momento meu mundo esta explodindo e eu queria meu refugio de jeans espalhados pelo chao e cama desarrumada para me abrigar.
Mas eh natal e estou a alguns milhares de quilometros da porta do meu quarto. Isso tudo por que decidi sair de ferias para passar o natal com a família. Mas eu descobri que aqui já não eh mais meu lugar.
Estou em João Pessoa, capital da Paraíba, lar de meus avós, terra natal de meu pai. Quando eu morava em Recife, vinha aqui todos os meses e no fim do ano as ferias escolares eram passadas na casa dos avós. Eu não sentia falta de casa. Ficava vendo TV, lendo, ouvindo as historias do meu avo e comendo biscoitos.
Depois que mudei para Brasília, as vindas para cá tornaram-se cada vez mais escassas. Agora contariam-se seis anos pelo menos sem aparecer no Nordeste. Para uma estadia longa a descanso podia-se contar dez.
O que descobri aqui eh que esse já não eh meu lugar. Enquanto escrevo eh Noite de Natal. Esta tendo Ceia no Salão de festas. Boa parte da minha família esta la, priminhos com barbas e namoradas a tira colo, tias velhas cada vez mais velhas, pessoas que nunca vi dizendo o quando eu cresci e me cumprimentando como se fosse um filho perdido reencontrado depois de anos de procura, e pessoas que vi e lembro, sendo reapresentadas e te tratando como um estranho. Ha whisky, cerveja, coca-cola, peru, frango, sanduiche, brigadeiro, piadas, amigo secreto, bingo, troca de presentes, risadas, abracos, comemoracoes, noticias boas e ruins. Eu estou no quarto andar, no apartamento de minha avo, escrevendo.
Você, caro leitor, pode ate achar que eh uma cena triste. Minha mãe achou, e posso esperar uma semana de mal-humor da parte dela a partir de quando anunciei que iria subir. Mas eu estou muito melhor do que quando, há poucos minutos, eu estava la embaixo.
Há, claro, um lado triste nesta situação. Descobrir que sua própria família não lhe da mais prazer ao lhe fazer companhia eh muito triste. Mas eh fato e fatos não se mudam.
Não se enganem, eu amo minha família, mas nesse momento eu queria estar no meu quarto. A perspectiva de ficar por essas terras por duas semanas chega a ser assustadora.
o resto da viagem promete praia, carne de caranguejo, festas fora do ambiente familiar e uma passada em Recife para rever amigos. Veremos...